Montepio dos Artistas Alagoanos
A reunião que propôs a criação do Montepio dos Artistas Alagoanos aconteceu no dia 11 de agosto de 1883, um domingo, no salão do sobrado do tenente Luiz Effigenio do Rosario, sob a presidência de Manoel Menezes e com a participação da banda de música da Polícia. Esse encontro era o desdobramento de outro que aconteceu com o intuito específico de discutir as formas de auxílio para um artista em estado de invalidez, como noticia o Orbe de 15 de agosto de 1883.
O objetivo era o de auxiliar as viúvas, os filhos órfãos e qualquer um dos seus membros que fosse atingido por moléstia que o impossibilitasse de trabalhar. A proposta foi aprovada e imediatamente foi eleito o conselho provisório que ficou assim definido: presidente, Manoel Ribeiro Barreto de Menezes; vice-presidente, professor Valerio de Farias Pinheiro; 1º secretário, Carlos Rodrigues; 2º secretário, Pedro Nolasco; tesoureiro, Epaminondas Belmiro dos Santos; orador acadêmico, Manoel Raymundo da Fonseca.
A diretoria provisória reuniu-se no dia 15 de agosto de 1883, no escritório do presidente, na Rua senador Sinimbu (atual Rua do Comércio) para elaboração dos estatutos.
O Monte Pio dos Artistas Alagoanos (era grafado assim) é fundado em 3 de outubro de 1883, oficializada pelo Decreto de 10/09. Sua primeira diretoria foi composta por: Manoel Menezes, presidente de honra; Graciliano Lopes Dantas, presidente efetivo; Pedro Nolasco, 1º Secretário; Antônio Alves, 2º Secretário; Idelfonso Mesquita, orador e Luiz Efigênio, tesoureiro. Um dos seus sócios honorários foi Tibúrcio Valeriano de Araújo.
No Orbe de 24 de outubro de 1883, em um texto editorial, o Montepio dos Artistas já se encontra em atividade e é citado como a instituição que “procura realizar” um liceu de artes e ofícios. Entretanto, a instalação festiva do Montepio aconteceu de fato no dia 31 de outubro de 1883, às 19 horas no sobrado do tenente Luiz Effigenio do Rosario.
No dia 18 de novembro de 1883, o Orbepublica uma nota em que Luzia Custodia do Amparo Ferraz, filhos e genros agradecem aos que “acompanharam até o cemitério, o cadáver de seu sempre chorado marido, pai e sogro Miguel Archanjo Ferraz, e principalmente aos dignos cavalheiros da Monte Pio dos Artistas a iniciativa que tomaram no enterro do mesmo finado”.
A criação do Lyceu de Artes e Officiosé atribuída ao Montepio dos Artistas em matéria do Orbe de 3 fevereiro de 1884. O jornal informa que naquele dia houve uma festa solene para a inauguração do Lyceu, explicando que a imprensa tinha defendido a causa, mas foi o Monte Pio dos Artistas que “compreendendo que lhe interessava de perto, e que o princípio da ação lhe competia determinou, por um louvável impulso de bem fazer, criar o Lyceu de Artes e Officios”.
Registra ainda que o presidente da província, Henrique de Magalhães Salles, ofereceu seu prestígio “convidando vários cavalheiros a cooperarem para o empreendimento”. No dia 6 de fevereiro de 1884 há a notícia da inauguração e o registro que o representante do Monte Pio, Luiz Monteiro de Carvalho, usou a palavra no evento. Para administrar o Lyceu foi formada a Sociedade Protetora da Instrução.
Em 1885, o Montepio dos Artistas funda sua primeira escola que, posteriormente, iria chamar-seEscola Graciliano Lopes Dantas.
12 de fevereiro de 1890. Em sessão do Conselho da Intendência Municipal, no dia 4 de fevereiro de 1890, o conselheiro Filigonio A. Jucundiano de Araujo aprova uma indicação com seguinte teor: “a praça em cuja frente tem sua sede a sociedade do Monte Pio dos Artista seja denominada praça do Monte Pio dos Artistas como homenagem devida a ter sido ali inaugurado o primeiro Club Republicano”. De fato, o Centro Republicano Federalista foi fundado em 11 de julho de 1886 em evento realizado na sede do Montepio dos Artistas.
Em 1912, com o assassinato do advogado Bráulio Cavalcanti, a Praça do Montepio dos Artistas foi utilizada para homenagear o bravo filho de Pão de Açúcar, incluído um busto que foi inaugurado no dia 16 de setembro de 1917. Entretanto, a vontade popular optou por continuar a se referir ao espaço como Praça do Montepio.
No dia 10 de outubro de 1897, o Orbe publica nota com a chapa vencedora das eleições que escolheu a direção do Montepio: presidente, coronel Domingues Lordsleem; vice-presidente, capitão Rufino Christiano Foght; 1º secretário, José Valeriano da Costa; 2º secretário, Manoel Cajazeira; Orador, capitão Pedro Nolasco Maciel; e tesoureiro, major João Guilherme Romeiro e Silva.
Em anúncio do dia 14 de janeiro de 1898, publicado no Orbe, o Montepio dos Artistas informa que estavam abertas as matrículas para o curso noturno. As disciplinas das aulas de instrução elementar eram as seguintes: Português, Aritmética, Geometria, Francês Teórico, Música, Escrituração Mercantil, Desenho, Geografia e Francês Prático.
Há registros de que na sede do Montepio existia um teatrinho e que no dia 14 de setembro de 1898, por ocasião do aniversário da independência de Alagoas, foi apresentado o drama Efeitos da Infelicidade Conjugal.
No dia 11 de outubro de 1899 é noticiado no Orbe que a eleição para a diretoria do Montepio seria realizada no dia 15 daquele mês e seria responsável pela condução da entidade nobiênio 1899/1900. A chapa tem a presidência do coronel Domingues Lordsleem.
No relatório do governador Euclides Malta de 1902, os deputados são informados que a sociedade Montepio dos Artistas Alagoanos continua a prestar serviços de socorros às viúvas dos sócios e aos pensionistas inválidos, e que possui uma biblioteca frequentada aos domingos pelos associados.
Euclides Maia anuncia que o Montepio vai reformar a fachada do prédio de acordo com uma nova planta elaborada pelo governo e doaria 2:000$000 à instituição, recursos retirados dos dinheiros de loteria.
No dia 2 de fevereiro de 1908 é noticiado que houve reforma do estatuto do Montepio dos Artistas quando o presidente era Almino de Oliveira Farias. Em março de 1910 o presidente é o coronel José Rodrigues Braga.
O jornal Gutemberg de 9 de março de 1911 publica anúncio do Montepio dos Artistas informando que a Escola Noturna tem o seguinte corpo docente: Curso Primário (1º e 2º anos), Manoel Estevam e José de Lima; Curso Elementar, (Aritmética) Benedicto Cunegundes e (Geometria Plana e Desenho) Emilio Machado; Geografia Geral, Chorographia e História do Brasil, Almeida Leita; e Curso Secundário (Português), Emilio Machado.
Em 1922, era seu presidente o deputado estadual Ângelo Martins. O Montepio dos Artistas, em 6 de janeiro de 1951, funda a Escola Domingos Lordsleem.
Criado originalmente para auxiliar as viúvas, os filhos órfãos e qualquer um dos seus membros que fosse atingido por moléstia que o impossibilitasse de trabalhar, o Montepio dos Artistas Alagoanos terminou por cumprir um papel também importante no ensino e na cultura de Alagoas.
Para mensurar a sua importância, vale a pena conhecer o episódio que envolveu Pedro Nolasco Maciel, um dos seus fundadores. O tipógrafo e jornalista também fundou aAssociação Tipográfica Alagoana de Socorros Mútuos e o jornal Gutemberg, além de ser durante sua trajetória redator de mais de uma dezena de jornais e professor de estenografia da Sociedade Libertadora Alagoana e do Liceu de Artes e Ofício.
Osvaldo Batista Acioly Maciel, no livro Traços e Troças, literatura e mudanças sociais em Alagoas organizado por Sávio Almeida em homenagem a Pedro Nolasco, o descreve como “tipicamente um desses indivíduos impregnados pela cultura associativa do período”, tendo participado de inúmeras entidades.
É este Pedro Nolasco que surpreende e faz publicar uma nota de esclarecimento no Orbe de 26 de janeiro de 1890 explicando um episódio acontecido no domingo 23 de janeiro, em que estaria sendo caluniado e acusado de falar de política em sua conferência.
Nolasco declara que para evitar desgostos à sua família, deixa “de fazer parte de hoje em diante de todos os clubes e sociedades, políticas ou não, que me honraram inscrevendo o meu humilde nome na lista de seus dignos associados”.
Entretanto, faz uma ressalva. “Ao Montepio dos Artistas fico pertencendo por ser uma corporação beneficente, mas resigno o cargo de orador com que me distinguiram os meus dignos companheiros”. A nota foi assinada no dia 24 de fevereiro.
Hoje, o prédio histórico do Montepio dos Artistas Alagoanos, mesmo sendo utilizado para fins comerciais, mantêm-se preservado, mas a praça que homenageou o Montepio não tem recebido o mesmo tratamento e está órfã, precisando urgentemente de um montepio.