quinta-feira, 29 de outubro de 2015

Montepio dos Artistas Alagoanos

Praça Montepio na década de 60
Inauguração do busto de Bráulio Cavalcante no dia 16 de setembro de 1917, quando ainda não existia a Faculdade de Direito
Inauguração do busto de Bráulio Cavalcante no dia 16 de setembro de 1917, quando ainda não existia a Faculdade de Direito. O prédio do Montepio dos Artistas aparece à esquerda na foto
A reunião que propôs a criação do Montepio dos Artistas Alagoanos aconteceu no dia 11 de agosto de 1883, um domingo, no salão do sobrado do tenente Luiz Effigenio do Rosario, sob a presidência de Manoel Menezes e com a participação da banda de música da Polícia. Esse encontro era o desdobramento de outro que aconteceu com o intuito específico de discutir as formas de auxílio para um artista em estado de invalidez, como noticia o Orbe de 15 de agosto de 1883.
O objetivo era o de auxiliar as viúvas, os filhos órfãos e qualquer um dos seus membros que fosse atingido por moléstia que o impossibilitasse de trabalhar. A proposta foi aprovada e imediatamente foi eleito o conselho provisório que ficou assim definido: presidente, Manoel Ribeiro Barreto de Menezes; vice-presidente, professor Valerio de Farias Pinheiro; 1º secretário, Carlos Rodrigues; 2º secretário, Pedro Nolasco; tesoureiro, Epaminondas Belmiro dos Santos; orador acadêmico, Manoel Raymundo da Fonseca.
Hotel Lopes nos anos 30 na Praça do Montepio dos Artistas
Hotel Lopes nos anos 30 na Praça do Montepio dos Artistas
A diretoria provisória reuniu-se no dia 15 de agosto de 1883, no escritório do presidente, na Rua senador Sinimbu (atual Rua do Comércio) para elaboração dos estatutos.
Monte Pio dos Artistas Alagoanos (era grafado assim) é fundado em 3 de outubro de 1883, oficializada pelo Decreto de 10/09. Sua primeira diretoria foi composta por: Manoel Menezes, presidente de honra; Graciliano Lopes Dantas, presidente efetivo; Pedro Nolasco, 1º Secretário; Antônio Alves, 2º Secretário; Idelfonso Mesquita, orador e Luiz Efigênio, tesoureiro. Um dos seus sócios honorários foi Tibúrcio Valeriano de Araújo.
No Orbe de 24 de outubro de 1883, em um texto editorial, o Montepio dos Artistas já se encontra em atividade e é citado como a instituição que “procura realizar” um liceu de artes e ofícios. Entretanto, a instalação festiva do Montepio aconteceu de fato no dia 31 de outubro de 1883, às 19 horas no sobrado do tenente Luiz Effigenio do Rosario.
Praça do Montepio sem a Faculdade Direito e com a sede do Montepio em obras
Praça do Montepio sem a Faculdade Direito e com a sede do Montepio em obras
No dia 18 de novembro de 1883, o Orbepublica uma nota em que Luzia Custodia do Amparo Ferraz, filhos e genros agradecem aos que “acompanharam até o cemitério, o cadáver de seu sempre chorado marido, pai e sogro Miguel Archanjo Ferraz, e principalmente aos dignos cavalheiros da Monte Pio dos Artistas a iniciativa que tomaram no enterro do mesmo finado”.
A criação do Lyceu de Artes e Officiosé atribuída ao Montepio dos Artistas em matéria do Orbe de 3 fevereiro de 1884. O jornal informa que naquele dia houve uma festa solene para a inauguração do Lyceu, explicando que a imprensa tinha defendido a causa, mas foi o Monte Pio dos Artistas que “compreendendo que lhe interessava de perto, e que o princípio da ação lhe competia determinou, por um louvável impulso de bem fazer, criar o Lyceu de Artes e Officios”.
Registra ainda que o presidente da província, Henrique de Magalhães Salles, ofereceu seu prestígio “convidando vários cavalheiros a cooperarem para o empreendimento”. No dia 6 de fevereiro de 1884 há a notícia da inauguração e o registro que o representante do Monte Pio, Luiz Monteiro de Carvalho, usou a palavra no evento. Para administrar o Lyceu foi formada a Sociedade Protetora da Instrução.
Praça do Montepio dos Artistas após a construção da Faculdade de Direito no início dos anos 30
Praça do Montepio dos Artistas após a construção da Faculdade de Direito no início dos anos 30
Em 1885, o Montepio dos Artistas funda sua primeira escola que, posteriormente, iria chamar-seEscola Graciliano Lopes Dantas.
12 de fevereiro de 1890. Em sessão do Conselho da Intendência Municipal, no dia 4 de fevereiro de 1890, o conselheiro Filigonio A. Jucundiano de Araujo aprova uma indicação com seguinte teor: “a praça em cuja frente tem sua sede a sociedade do Monte Pio dos Artista seja denominada praça do Monte Pio dos Artistas como homenagem devida a ter sido ali inaugurado o primeiro Club Republicano”. De fato, o Centro Republicano Federalista foi fundado em 11 de julho de 1886 em evento realizado na sede do Montepio dos Artistas.
Em 1912, com o assassinato do advogado Bráulio Cavalcanti, a Praça do Montepio dos Artistas foi utilizada para homenagear o bravo filho de Pão de Açúcar, incluído um busto que foi inaugurado no dia 16 de setembro de 1917. Entretanto, a vontade popular optou por continuar a se referir ao espaço como Praça do Montepio.
No dia 10 de outubro de 1897, o Orbe publica nota com a chapa vencedora das eleições que escolheu a direção do Montepio: presidente, coronel Domingues Lordsleem; vice-presidente, capitão Rufino Christiano Foght; 1º secretário, José Valeriano da Costa; 2º secretário, Manoel Cajazeira; Orador, capitão Pedro Nolasco Maciel; e tesoureiro, major João Guilherme Romeiro e Silva.
Faculdade de Direito (atual Casa do Advogado) e Montepio dos Artistas. Foto de Stuckert nos anos 50
Faculdade de Direito (atual Casa do Advogado) e Montepio dos Artistas. Foto de Stuckert nos anos 50
Em anúncio do dia 14 de janeiro de 1898, publicado no Orbe, o Montepio dos Artistas informa que estavam abertas as matrículas para o curso noturno. As disciplinas das aulas de instrução elementar eram as seguintes: Português, Aritmética, Geometria, Francês Teórico, Música, Escrituração Mercantil, Desenho, Geografia e Francês Prático.
Há registros de que na sede do Montepio existia um teatrinho e que no dia 14 de setembro de 1898, por ocasião do aniversário da independência de Alagoas, foi apresentado o drama Efeitos da Infelicidade Conjugal.
No dia 11 de outubro de 1899 é noticiado no Orbe que a eleição para a diretoria do Montepio seria realizada no dia 15 daquele mês e seria responsável pela condução da entidade nobiênio 1899/1900. A chapa tem a presidência do coronel Domingues Lordsleem.
No relatório do governador Euclides Malta de 1902, os deputados são informados que a sociedade Montepio dos Artistas Alagoanos continua a prestar serviços de socorros às viúvas dos sócios e aos pensionistas inválidos, e que possui uma biblioteca frequentada aos domingos pelos associados.
Euclides Maia anuncia que o Montepio vai reformar a fachada do prédio de acordo com uma nova planta elaborada pelo governo e doaria 2:000$000 à instituição, recursos retirados dos dinheiros de loteria.
Praça do Montepio na década de 50. Nesta casa funcionou a Delegacia do Trabalho do Governo Muniz Falcão. Hoje é um estacionamento
Praça do Montepio na década de 50. Nesta casa funcionou a Delegacia do Trabalho do Governo Muniz Falcão. Hoje é um estacionamento
No dia 2 de fevereiro de 1908 é noticiado que houve reforma do estatuto do Montepio dos Artistas quando o presidente era Almino de Oliveira Farias. Em março de 1910 o presidente é o coronel José Rodrigues Braga.
O jornal Gutemberg de 9 de março de 1911 publica anúncio do Montepio dos Artistas informando que a Escola Noturna tem o seguinte corpo docente: Curso Primário (1º e 2º anos), Manoel Estevam e José de Lima; Curso Elementar, (Aritmética) Benedicto Cunegundes e (Geometria Plana e Desenho) Emilio Machado; Geografia Geral, Chorographia e História do Brasil, Almeida Leita; e Curso Secundário (Português), Emilio Machado.
Em 1922, era seu presidente o deputado estadual Ângelo Martins. O Montepio dos Artistas, em 6 de janeiro de 1951, funda a Escola Domingos Lordsleem.
Criado originalmente para auxiliar as viúvas, os filhos órfãos e qualquer um dos seus membros que fosse atingido por moléstia que o impossibilitasse de trabalhar, o Montepio dos Artistas Alagoanos terminou por cumprir um papel também importante no ensino e na cultura de Alagoas.
Para mensurar a sua importância, vale a pena conhecer o episódio que envolveu Pedro Nolasco Maciel, um dos seus fundadores. O tipógrafo e jornalista também fundou aAssociação Tipográfica Alagoana de Socorros Mútuos e o jornal Gutemberg, além de ser durante sua trajetória redator de mais de uma dezena de jornais e professor de estenografia da Sociedade Libertadora Alagoana e do Liceu de Artes e Ofício.
Osvaldo Batista Acioly Maciel, no livro Traços e Troças, literatura e mudanças sociais em Alagoas organizado por Sávio Almeida em homenagem a Pedro Nolasco, o descreve como “tipicamente um desses indivíduos impregnados pela cultura associativa do período”, tendo participado de inúmeras entidades.
É este Pedro Nolasco que surpreende e faz publicar uma nota de esclarecimento no Orbe de 26 de janeiro de 1890 explicando um episódio acontecido no domingo 23 de janeiro, em que estaria sendo caluniado e acusado de falar de política em sua conferência.
Nolasco declara que para evitar desgostos à sua família, deixa “de fazer parte de hoje em diante de todos os clubes e sociedades, políticas ou não, que me honraram inscrevendo o meu humilde nome na lista de seus dignos associados”.
Entretanto, faz uma ressalva. “Ao Montepio dos Artistas fico pertencendo por ser uma corporação beneficente, mas resigno o cargo de orador com que me distinguiram os meus dignos companheiros”. A nota foi assinada no dia 24 de fevereiro.
Hoje, o prédio histórico do Montepio dos Artistas Alagoanos, mesmo sendo utilizado para fins comerciais, mantêm-se preservado, mas a praça que homenageou o Montepio não tem recebido o mesmo tratamento e está órfã, precisando urgentemente de um montepio.

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